Nem todos que vivem uma experiência na Terra serão, necessariamente, pais ou mães, mas todos nós que aqui estamos somos filhos. A partir deste papel construímos a nossa vida para a vida adulta. A forma como nos relacionamos com nossos pais é a forma que nos colocamos no mundo, refletindo – e até definindo – nosso movimento na vida. Esse relacionamento inicia-se muito antes do nascimento: a percepção inconsciente de uma criança acontece desde o momento da concepção. “No útero materno, a criança é especialmente sensível aos sentimentos de aceitação ou rejeição de seus pais, se entende como pessoa completa e distinta deles e já vivencia suas primeiras experiências de alegria e dor em relação a eles e ao ambiente” [1].
Após o nascimento, a mãe é a nossa ligação com a vida. É por meio dela que chegamos ao nosso primeiro alimento, o leite, e que vivenciamos nosso primeiro sucesso: nos alimentar e nos manter vivos. Daí para a frente, esse movimento ativo de ir atrás daquilo que precisamos para sobreviver – em diferentes níveis e contextos – é o que determina o nosso sucesso na vida.
O pai, por sua vez, é amplitude e expansão. É nele em quem nos agarramos para ir além, quem nos permite ir para o mundo. Ele cuida, sem superproteger, e deixa que o erro surja para que a lição seja aprendida.
Ainda que a eles tenha sido reservado o papel tão importante de gerar a nossa vida, é preciso reconhecer que nossa mãe e nosso pai também são apenas uma mulher e um homem bem comuns. Nós, filhos, nos esquecemos disso com bastante facilidade e ultrapassamos os limites deles.
Até por volta dos 10-12 anos, nos comportamos bem como filhos, até porque seria impossível continuar sobrevivendo sem os cuidados de nossos pais. Quando chega a adolescência – e ela tem chegado cada vez mais cedo para as novas gerações – entramos em um movimento de buscar nossa individualidade. É como se isso fizesse com que nos perdêssemos pelo caminho e passamos a acreditar que não precisamos mais deles, que somos maiores que eles, que nossas soluções são melhores que a deles, julgando e criticando seus comportamentos e atitudes.
Neste momento, acontece a quebra do que Bert Hellinger chama de Lei de Hierarquia. “Quem entrou primeiro em um sistema tem autoridade sobre quem entrou depois”, diz a Lei [2]. Esse deslocamento do nosso lugar dentro da família gera muito sofrimento: não aceitar nossa mãe ou nosso pai como eles são é não aceitar a nós mesmos, é brigar com a realidade e este é um caminho de dificuldades. Quem fica na acusação de seus pais sai pelo mundo negando seu afeto e desejando outros pais.
No entanto, somente com estes pais é que a nossa vida é possível. Os papéis foram definidos no vínculo gerado no momento da concepção e não há outros que possam ocupá-los. Para cada filho, há somente um pai e uma mãe. Se fosse outro pai ou outra mãe, seria também outro filho.
Quando Bert Hellinger diz que “a vida é algo que os pais receberam e passaram para seus filhos. (…) É a benção dentro do grande movimento da vida, que vem de bem longe e segue fluindo através dos pais” [3], ele quer dizer que a qualidade da nossa relação com nossos pais reflete a qualidade da nossa relação com a histórias de nossos antepassados, das gerações que vieram antes de nós, e que é onde reside a nossa maior força.
Mas como ter uma relação harmoniosa com nossos pais depois de tantos problemas e dificuldades? Eis um bom caminho:
· Enxergar em nossos pais a nossa própria humanidade,
· Vê-los e respeitá-los, pois, eles também foram crianças,
· Olhar para além de nossas exigências como filhos,
· Encontrá-los e aceita-los como pessoas comuns que fizeram o que foi possível com aquilo que tinham, com o mundo que se apresentava para eles.
Normalmente, esse entendimento só acontece quando já estamos adultos; o amadurecimento nos faz aceitar o que temos, em vez de ocupar nosso relacionamento com nossos pais com aquilo que desejaríamos ter. O amadurecimento nos faz entender também que nossos pais não esperam nada de nós além de sermos seus filhos e que sejamos plenos e felizes para que a vida possa seguir adiante através de nós.
Pais se realizam ao ver seus filhos realizados e o nosso agradecimento aos nossos pais passa pela nossa vida. Ao agarrar a vida que eles nos deram e torná-la boa e próspera, deixamos claro o quanto respeitamos aquilo que eles nos deram, e por consequência, o quanto os valorizamos por nos ter passado o dom da vida.
“Meus pais não me deram tudo que eu sempre pedi e desejei, mas sim, tudo que eu precisei para ser a pessoa que sou hoje.
Obrigado pai e mãe pelo que eu sou hoje.
Agora eu sigo a minha vida. ”
#dicadoAnand:
A Constelação familiar é muito indicada para as pessoas que desejam se harmonizar de forma profunda com a fonte da vida ou seja nossos pais.
Referencias:
[1] Moraes, Renate Jost . As chaves do inconsciente / Renate Jost de Moraes. Edição 9. Rio de Janeiro: Agir, 1994.
[2] Hellinger, Bert. Ordens de Amor: um guia paro o trabalho com constelações familiares. Edição 1. São Paulo: Cultrix, 2007.
[3] Hellinger, Bert. A fonte não precisa perguntar pelo caminho: um livro de consulta. Edição 3. Patos de Minas: Atman, 2005.
[4] Perreira, Denisval. Os filhos na visão sistêmica – Causa e Efeito. Institutovidhas. 28 janeiro 2019. Campo Grande. Disponível em: https://institutovidhas.com.br/constelacao-familiar-sistemica/os-filhos-na-visao-sistemica-causa-e-efeito/> Acesso em: 10 dezembro 2021.